domingo, 17 de janeiro de 2010

Transplante de medula entre irmãos agora tem cobertura obrigatória - o que os linfomas tem a ver com isto?

Prezados,

Depois de algum tempo em que não encontrei tempo para atualizar este blog, espero retomá-lo com a mesma força de antes, agora já em terras brasileiras.

Creio que é uma boa hora para explicar o que pode mudar para as pessoas com linfomas, agora que a ANS colocou o transplante de medula entre irmãos, também conhecido com transplante alogênico, na lista de procedimentos com cobertura obrigatória.

Primeiro, vamos diferenciar os tipos de transplante:

1-O transplante autólogo ou auto-transplante é um procedimento que já tem cobertura há alguns anos. Neste tipo de transplante, as células-tronco do paciente são colhidas usualmente do sangue e estocadas na forma congelada. Os pacientes são submetidos então a uma quimioterapia de altas doses e, em seguida, recebem as células de volta para recuperar a função da medula.

2-No transplante entre dois indivíduos ou alogênico, a medula pode ser coletada de um dos irmãos (neste caso o transplante é aparentado) ou de um doador voluntário que tenha uma medula compatíve (transplante não aparentado). O paciente pode receber uma quimioterapia de altas doses (transplante mieloablativo) ou de doses menores (não-mieloablativo ou de intensidade reduzida).

Os dois tipos de transplante funcionam de forma bem diferente. No auto-transplante, como já dito, a medula colhida basicamente encurta o tempo em que o indivíduo ficará sem as defesas imunológicas e, portanto, suscetível a infecções.

No transplante alogênico, as células do doador podem reconhecer as células do receptor, inclusive as células malignas, como "inimigas" e atacarem elas em um efeito denominado reação enxerto-contra-linfoma (no caso da doença ser atacada) ou de enxerto-contra-hospedeiro (no caso do ataque ser contra órgãos do receptor, tais como pele ou intestino). Outra vantagem deste transplante é que a medula não tem nenhum tipo de contaminação com células malignas, pois foi retirada de outra pessoa.

O procedimento que foi colocado na nova lista da ANS foi o transplante alogênico aparentado.

E eu, o que tenho a ver com isto?

Bem, eu participo de uma equipe que já faz transplantes autólogos no Rio de Janeiro há mais de 6 anos.

Também tive a honra de ter contribuido para que a Clínica São Vicente da Gávea tenha sido autorizada a realizar o transplante entre parentes há cerca de um ano e pretendo realizar este transplante juntamente com os meus colegas agora que os seguros-saúde terão que autorizá-los.

Mas, este blog é sobre linfomas.

E é sobre o uso do transplante como tratamento dos linfomas que falaremos nas próximas postagens.

Basta dizer que mais da metade dos transplantes alogênicos realizados no Memorial Sloan-Kettering de Nova Iorque são em linfomas.

Um forte abraço.