segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Tratamento da esclerose múltipla e da esclerodermia com transplante autólogo de medula óssea

Este blog destina-se aos linfomas mas, volta e meia, coloco informações de interesse mais geral.

Em meados de abril, assisti a um Globo Repórter cujo tema foi "tratamentos com célula-tronco".

Entre as diferentes aplicações abordadas, minha atenção foi despertada pelo relato de pacientes com uma doença neurológica chamada esclerose múltipla que haviam obtido grande melhora com o transplante autólogo de medula óssea.

Bem, já acompanho o trabalho do Dr Julio Voltarelli há algum tempo. Ele lidera o grupo brasileiro de estudo do transplante autólogo como tratamento de um grupo de doenças conhecido como autoimunes, onde o sistema imunológico do paciente ataca órgãos do próprio.

Recentemente, foi publicado o Consenso Brasileiro para o uso do transplante de medula como tratamento de doenças autoimunes (disponível gratuitamente em:

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-84842010000700018&lng=en&nrm=iso

Afinal, onde entro nisto?

Bem, quem acompanha este blog sabe que além de linfomas tenho grande interesse em transplante de medula, principalmente o transplante autólogo, que utilizamos como tratamento de pacientes com linfoma que recaem após uma quimioterapia tradicional.

O uso deste tipo de transplante em doença autoimunes, consideradas como doenças benignas, sempre foi motivo de debate, embora o resultado dos estudos sempre tenha sido bastante favorável.

Depois do assunto ter sido abordado no Globo Repórter de forma tão favorável, senti que poderíamos estar passando da fase de pesquisa para uma indicação de tratamento.

No consenso brasileiro, está claramente indicado que existem duas doenças nas quais o transplante autólogo tem sua indicação autorizada fora de um protocolo de pesquisa:

Esclerose Múltipla nas formas maligna ou resistente aos tratamentos convencionais

Esclerose sistêmica

Muito se fala que na esclerose múltipla a sobrevida do paciente não é afetada e, por isto, seria intolerável o uso de um tratamento com a toxicidade do auto-transplante.

Será que um paciente com incontinência urinária decorrente da doença também acha isto?

Ou um paciente que está em cadeira de rodas devido à progressão da doença?

Ou um paciente que tem múltiplas crises anuais que evolui com piora neurológica progressiva?

No caso da esclerose sistêmica, a indicação vem da pouca eficácia de outros tratamentos.

Creio que o auto-transplante deve ser uma entre outras opções de tratamento para etas doenças. Devemos discutir os riscos e benefícios com os pacientes e estes devem participar da decisão de fazer ou não.

O que não podemos é desconhecer o que foi colocado em uma publicação da importância do Consenso Brasileiro em Transplante de Medula.

A propósito, o tratamento no transplante, a base de ciclofosfamida e ATG, é menos tóxico do que aqueles que usamos nos linfomas.